domingo, 20 de novembro de 2011


 
Conforme-se, as coisas sempre mudam. Se você não fizer a mudança, as pessoas farão.

  

 
 

sábado, 19 de novembro de 2011

Eduardo Galeano

As pessoas escrevem a partir de uma necessidade de comunicação e de comunhão com os outros, para denunciar aquilo que machuca e compartilhar o que traz alegria. As pessoas escrevem contra sua própria solidão e a solidão dos demais porque supõem que a literatura transmite conhecimentos, age sobre a linguagem e a conduta de quem a recebe, e nós ajuda a nos conhecermos melhor, para nos salvarmos juntos.

Eduardo Galeano

Nas longas noites de insônia e nos dias de desânimo, aparece uma mosca que fica zumbindo dentro da cabeça da gente:  " Vale a pena escrever? Será que as palavras sobreviverão em meios aos adeuses e aos crimes? "

Versos escritos n'água

Os poucos versos que aí vão,
Em lugar de outros e que os ponho.
Tu que me lês, deixo ao teu sonho
Imaginar como serão.
Neles porás tua tristeza
Ou bem teu júbilo, e, talvez,
Lhes acharás, tu que me lês,
Alguma sombra de beleza ...
Quem os ouviu não os amou.
Meus pobres versos comovidos!
Por isso fiquem esquecidos
Onde o mau vento os atirou.

     - Desconhecido

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Avenged Sevenfold - So Far Away

“E mesmo sorrindo por ai, cada um sabe a falta que o outro faz. Nunca mais se viram, nunca mais se tocaram e nunca mais serão os mesmos. É fácil porque os dias passam rápidos demais, é dificil porque o sentimento fica, vai ficando e permanece dentro deles. E todos os dias eles se perguntam o que fazer. E imaginam os abraços, as noites com dores nas costas esquecidas pelo primeiro sorriso do outro. E que no momento certo se reencontrem e que nada, nada seja por acaso.””
Caio Fernando Abreu
“Compreenda, eu só preciso falar com você. Não importam as palavras, os gestos, não importa mesmo se você continua a fugir e se empareda assim, se olha para longe e não me ouve nem vê ou sente. Eu só quero falar com você, escute.”
Caio Fernando Abreu

Snuff - Slipknot

Faço-me disponível se o encontro for com você. Faço-me em flores para sentir suas mãos. Faço-me riso, para encaixar-me em seus lábios. Faço-me abraço, para me perder em seus braços. Faço-me música, para te relaxar. Faço-me sombra, para te acompanhar. Faço-me alma, para ser igual. Faço-me paz para te acalmar. Transformo-me em arrepio, para percorrer seu corpo. Faço-me metade, para que juntos formemos todo. Faço-me amanhã, para ser tua dúvida. Faço-me hoje, para te trazer certeza. Faço-te companhia, para espantar sua tristeza. Faço-me lágrimas, para ser teu mais íntimo segredo. Faço-me luz, para te livrar do medo. Faço-me colo, para te passar confiança. Faço-me passado, para ser tua lembrança. Faço-me fé, para te levar esperança. Faço-me caminho, para guiar teus passos. Faço-me ego, para ser teu aliado. Faço-me inspiração, para surgir do coração. Faço-me amor, para estar sempre em ti. Desfaço-me em motivos, para que não saias daqui.

Mateus F.
Faço-me disponível se o encontro for com você. Faço-me em flores para sentir suas mãos. Faço-me riso, para encaixar-me em seus lábios. Faço-me abraço, para me perder em seus braços. Faço-me música, para te relaxar. Faço-me sombra, para te acompanhar. Faço-me alma, para ser igual. Faço-me paz para te acalmar. Transformo-me em arrepio, para percorrer seu corpo. Faço-me metade, para que juntos formemos todo. Faço-me amanhã, para ser tua dúvida. Faço-me hoje, para te trazer certeza. Faço-te companhia, para espantar sua tristeza. Faço-me lágrimas, para ser teu mais íntimo segredo. Faço-me luz, para te livrar do medo. Faço-me colo, para te passar confiança. Faço-me passado, para ser tua lembrança. Faço-me fé, para te levar esperança. Faço-me caminho, para guiar teus passos. Faço-me ego, para ser teu aliado. Faço-me inspiração, para surgir do coração. Faço-me amor, para estar sempre em ti. Desfaço-me em motivos, para que não saias daqui.  Mateus F.

Marcelo Camelo

Se você ficar sozinho, pega a solidão e dança.
Deixe-me só, por favor. Que comigo eu fico bem.  - Mateus F.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Beeshop

“És presença. E, mesmo quando és ausência, és muito mais do que saudade. És vontade de ver de novo, de ver mais, de ver mais de perto, ver melhor. E tocar, de modo que, cada toque, eu tenha um pouco mais de ti em mim, para que não haja mais ausência. Te encontrar virou apenas uma questão de fechar os olhos. Tenho confundido ‘eu’ com ‘nós’. Mas essa confusão só me acontece porque eu tenho certeza de tudo que eu sinto. E o que eu sinto é o tal do amor. Aquele surrado, mal-falado, desacreditado e raro amor, que eu achava que não existia mais. Pois existe. E arrebata, atropela, derruba, o violento surto de felicidade causado pelo simples vislumbre do teu rosto.” 

He Idiot, Cretin She

- O que tanto faz menina?
- Nada.
Ele pega o celular dela, olha o que tanto ela via e diz:
- Ela é linda.
- Ela é muito mais que isto. Ela é tudo.
A menina empurra o rapaz que deixa o celular cair no chão.
- Idiota, você deixou cair. Veio ver a desgraça dos outros e ficar pertubando é.
Ela pega o celular no chão e senta a beira do coreto sem grades.
- Não sou tão idiota assim. Você tá sendo uma cretina dizendo isto, não me conhece.
- Não conheço mesmo. E a diferença?
- Não.
- Então saia, me deixe só.
Ela olha para o lado tentando esconder a tristeza.
- Não saio. Não há teu nome aqui. 
Ele tenta olhar para ela, senta ao lado dela.
- Você é mesmo um idiota.
- E você uma cretina.
- Vai continuar aqui mesmo?
Pergunta a menina incrédula pela expressão do rapaz.
- Vou. Isso incomoda?
Ele simplesmente sorri.
- Agora acho que tanto faz.
Ele olha para a menina e fica fixamente a procura de algo. Ela torce para que ele se vá logo, mas ele omeça o dialógo.
- Aqui é um lugar bom, não acha?
- Vai mesmo insistir né?!
- Vou.
Ele sorri.
- Não concorda comigo?
- É, aqui é bom mesmo.
Ela dá um sorriso torto. Ele ainda continuará ali pensa a menina.
- Já é tarde, irá esfriar. Você estava pensando na garota da foto?
- Sim.
- Ela é realmente importante para você. Estou certo?
- Sim, tá tão na cara é?!
Ele dá uma gargalhada irônica que irrita a menina.
- Vocêé muito, mais muito IDIOTA! 
Ela diz em tom nervoso e estremece um pouco.
- E sou um IDIOTA mesmo. E daí?
O rapaz fica tenso e abaixa a cabeça.
- Olhe, nem sei quem é você. E nem sei porque continua aqui, e sinceramente nem sei porque ainda lhe respondo.
- Você já disse. Eu sou IDIOTA,  você a CRETINA. O resto iremos descobrir.
A menina olha para baixo e ao olhar o rapaz balança a cabeça em concordância. Ela sorri.
- Idiota o que faz aqui?
- Há eu vi uma menina aqui aí descidi vir ver se ela precisava de algo.
Ele sorri.
- A menina precisa.
Diz ela em tom triste.
- Quer conversar?
- Você não entenderia. Ninguém entende.
- Olhe, Cretina. Posso não parecer entender nada. Mas já perdi muito, já fiz muito.E sei como é viver pensando em desistir.
- Algum dia lhe conto pode ser?
- Tá bem, Cretina é melhor você ir não acha?! Está amanhecendo, seus pais devem estar preocupados.
Ela sorri.
- É, pode ser.Como lhe encontro?
- Sempre pode vir aqui, e lhe encontrarei.
- Idiota, prazer sou CRETINA.
Ela dá um sorriso amarelo.
- Oi Cretina, prazer IDIOTA.
Ele sorri animado.
E dali os dois trocaram as palavras onde nasceria a confiança mútua. E onde o sol nascia. Ela levanta-se e apenas vai embora, o rapaz ainda sentando. Olhando a menina que acabará de conhecer indo embora.

Continua.

sábado, 12 de novembro de 2011

“Ei, se um dia você estiver com minha pequena, saiba que você terá que cuidar dela, por mais difícil e inconstante que ela seja. Não deixa o sorriso dela sumir… Desse jeito irá perder a única coisa capaz de alegrar seus dias. Faças as mais estúpidas brincadeiras com ela, riam do vento juntos, segure sua mão, faça-a se sentir segura. Ela pode parecer forte pro fora, mas há qualquer instante pode cair; é nesse momento que você deve segura-la. Extremamente ciumenta, verá como ela fica linda cuidando do que é dela. Não esqueça disso, lembre-a todas os dias que pertence somente a ela, mais ninguém. […] Deixe-a ouvir seu coração chamar o nome dela.”
    ( Máquina de sentimentos. )
Me pergunto como começar exatamente, o que dizer, o quer tentar escrever… É meio impossível falar sobre “você”… Por que? Pelo simples fato de ser você, por ser uma das pessoas que eu mais gosto e que sempre está lá, pra o que for, xingar com você, chorar com você, sorrir com você. Você merece muito, mas muito mais mesmo do que esse simples texto, por você sem sempre você, por você ser um filho da puta de um amigo, que enxuga qualquer lágrima que ousa cair de meus olhas, com palavras, apenas. Bom você se recorda o começo? Era tão bom conversar com você, só que ambos crescemos, não faz muito tempo, mas essa amizade se tornou grande rapidamente. Eu me pergunto como você me conhece.. Assim tão bem. Eu não ligo para o que os outros dizem, mas posso te chamar de amigo e até melhor amigo se for preciso, porque quem está me apoiando agora é você, e me fazendo sorrir quando aquela dor começa a surgir. Você é o tipo de anjo, que afasta os pesadelos, e põe uma luz sobre sua cabeça para abençoa-lá de todo mal que está por perto. Todas as vezes que você brigou comigo você sempre estava com a razão, claro posso chama-lo de Sr. Razão? Porque querendo ou não, você está sempre certo, pode errar, claro, todo mundo erra, só que você consegue fazer as coisas certas… E quando dá errado? Foda-se as consequências. E agora, se eu lhe disser que estou chorando, sairia do outro lado do país para por um sorriso em meu rosto? Me abraçaria e diria que tudo ficará bem? Espero que sim, porque eu faria o mesmo por você. Sabe quando o que está triste e uma pessoa te da motivação? Você na maioria das vezes é essa pessoa. Posso pedir algo? Nunca me deixe, e eu prometo não fugir… Sua amizade é algo valioso, e eu irei preserva-la até o final, não quero que seja “para sempre” mas até que ambos partimos para outra vida. Você me ensinou uma coisa: tudo é possível, basta querer. Me ensinou também que para sermos felizes, temos que correr atrás da felicidade, porque se ficarmos parados seremos infelizes. Entre muitas outras coisas… Posso cantar pra você? Só pra você dar gargalhadas da minha voz, posso sorrir ao ouvir seu sotaque? Ele não é o mais lindo, só que é meigo e da aquela vontade de morde. Posso brigar com você como irmãos fazem? Implicar com tudo que você faz? Me pergunto como você me atura, assim, eu sou insuportável, não tenho limites, e você continua me suportando e me fazendo sorrir. Você é o irmão que eu não tenho, é um irmão de coração e não de sangue, é aquele que vai cuidar de mim quando tudo se foder, e irá estar ao meu lado quando eu estiver errada, mas irá me xingar pra caralho também. Obrigada, por você não me deixar partir uma vez, por me segurar, me abraçar e dizer que tudo iria ficar bem, obrigada por não me abandonar, e não fazer com que a nossa amizade acabasse. Obrigada, por você ser incrível, obrigada.
Eu, bom… Eu amo você.

                             Para Ogami.
Eu pensei que a saudade só trouxesse tristezas, mas percebo que ela também me faz ver o quanto você é importante pra mim. Pensamentos-Abstratos

“Sossega-te, pequena. Pare de caminhar tanto de um lugar para o outro. Pare de entregar tanto teu coração, não espalhe-o no meio da estrada. Não cria esse desgosto de coração-ficado. Aprende de uma vez por todas que por mais que o abraço de alguém de alguma dessas esquinas esquente esse teu coração frio, ele é temporário e, assim que ele acabar, seja o vento ou seja a vida faz esse teu coração-ficado voltar a ser gélido.”    ( Desesperançoso )

Objetivar

Saudades. Saudades de quando as coisas eram mais simples. Saudades de quando não era necessário pensar muito para se tomar algumas decisões. Saudades de quando os abraços eram mais verdadeiros. Saudades de quando o “senti a sua falta” me causava borboletas no estômago. E hoje o que me restará somente isso, um espaço vago dentro de meu peito, esperando algo ou alguém para preencher esse vazio – cuidar de mim. Confesso-te, que é bem melhor assim, não sentir nada, mas ao mesmo tempo sentir tudo. Talvez pelo fato que sozinho você tem menos chances de sofrer por coisas – por pessoas, que não valem à pena.  Mas a ausência de sentimentos, também não me agrada nenhum pouco. Eu tenho vontade de sentir as coisas, mas ao mesmo tempo tenho medo.  Eu tenho medo de me decepcionar, de criar expectativas naquilo que irá somente brotar decepções e mais decepções. Tenho medo de sofrer. Reviver aquilo que um dia só me fez sofrer dói demais - só de lembrar. Embora tudo isso me induz a escolher continuar assim, aonde é mais confortável para mim. Não decido ficar assim – parado onde eu estou observando a vida passar, vendo as pessoas sorrirem e também chorando. Decido me arriscar, quero correr riscos novamente – quero me apaixonar de novo. [..] Agora entra você nesta história insana. Vejo você passear em meus devaneios, e me acariciar em meus sonhos fantasiosos. Deixo-me levar pelo inconsciente, a partir deste instante saio-me da zona de conforto, e vou caminhando dando passadas longas e desesperadas ao meu destino incerto, rumo a você. Decidido deixar de lado os medos e os traumas do passado, e simplesmente viver o que é o agora – o hoje .
“Nem sempre fui assim tão errado, jogado pelos cantos da vida, esquecido pelo tempo. Já tive aquele brilho nos olhos, onde conseguia encontrar minha esperança, um riso que me aquecia até mesmo nos dias mais frios, tive um ponto de equilíbrio. Porém, um dia toda estrutura envelhece, cria rachaduras, enfraquece. Comigo não seria diferente.”   ( Desesperançoso )

Ana Luíza K.

“E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música.” Friedrich Nietzsche
   Os pés sob os dela, guiava-a. Tinha medo de que se a deixasse andar sozinha, corresse para longe dele. Sempre teve essa mania ridícula de arriscar, libertar as coisas. Mas não podia arriscar perdê-la, não ela. A música terminou e ele, imerso em pensamentos, esqueceu-se de sussurrar uma continuação qualquer pra que ela não descesse dali, para levá-la depois no colo até o carro, quando já estivesse cansada o bastante para adormecer ao primeiro conforto. Ela desceu então, rindo:
Ele: Não gosto quando anda sozinha.
Ela: Não entendo. Gosto de andar sozinha.
Ele: Viu, já começou ideia de independência. Não quero isso, preciso que precise de mim, amor. Não posso deixá-la ir embora. A brisa é traiçoeira, amor. Ela sussurra liberdade e atrai os sonhadores, assim como o canto da sereia atrai os pescadores. Por isso sussurro mais alto que ela, por isso a guio. Porque não posso deixá-la ir embora.
Ela: Não vê?
Ele: O que deveria ver, realmente?
Ela: Olhe em volta. As pessoas nos olham como se fôssemos insanos, anjo. Elas não ouvem.
Ele: Não ouvem o que?
Ela: A música que dançamos toda noite. A música que sussurra sem perceber continuamente enquanto pensa no medo que tem de perder-me. Mal sabe que se perder-me, também me perco. Sou feita de mim e de você, anjo. E não sei ser feliz pela metade. Não vou embora.
   Pegou-a no colo como em todas as noites e levou-a ao carro, sonolenta, sem dar atenção aos olhares presos a eles, simplesmente o fez. Mas não com a sensação de guardá-la, prendê-la a ele, mas com a sensação de que a tinha para si.

Belovesick

Resquícios de madrugadas intermináveis banhadas a alcóol e perfumadas pela neblina que se desprendia dos cigarros acessos e espalhados pelo apartamento, se tornam parte de um passado distante que se equivale a distância que restou entre eu e você. Perdido no emaranhado dos lençóis, eu me reviro na cama, ouvindo o ressoar do telofone que insiste em permanecer inalcançável e a atrapalhar a minha insônia.
— Alô? — Do outro lado da linha, a sua voz embargada e mergulhada em um mar de soluços e sons psicodélicos me faz querer saltar da cama. Mas resisto, e não me permito um só movimento, nem pra cá, nem pra lá. Não permito um só efeito seu sobre o meu corpo exausto que ainda assim se agarra aos lençóis e, vitorioso, se mantém imóvel.
— Alô?! — A sua excitação “audível” me faz desanimar. Espero em silêncio, brincando de encarar o teto e de admirar o branco encardido deste — O que você tem feito? — A pergunta me assalta, e sem ânimo para resistir mais, salto da cama. Caminho pelo quarto como quem caminha em um campo de guerra, desviando de bombas que em meu caso são garrafas quebradas de uísque, e cinzeros fumegantes. (O que eu tenho feito além de pensar em você? Ou de estar sobrevivendo?)
— Eu tenho feito nada — Sussurro receoso, alcançando a janela e abrindo esta para aspirar um pouco da poluição que namora o céu acinzentado de São Paulo. O barulho agozinante de buzinas e freiadas me causa um desespero agradável, e eu tento me desvencilhar da sua voz que torna a surgir no telefone.
— E o que é você faz fazendo nada?
— O que é você pensa que é o nada? — Retruco, enquanto meus dedos ágeis palpeiam as jardineiras sem vida da janela em busca de algum maço perdido de cigarros. Sem ganhar tempo para resposta, sua voz me invade e me corrompe, e me faz querer voltar para cama para não sair de lá jamais.
— Eu desconheço o nada. Por que você — e um riso baixo da sua voz se mistura aos sons psicodélicos e aos urbanos que invandem meu apartamento — não me define o nada?
(O nada é o que restou da sua partida. É o cheiro tóxico das ruas que me sequestra a cada esquina, e me faz lembrar de você. É o gosto amargo e quente das bebidas que não consolam, e não preenchem o nada. O nada é um buraco negro que engole o tudo. O nada é o espaço vazio que restou na cama desde o nosso fim. O nada é você.)
— O nada é relativo demais, não há como definir nada. (Há.) — Encontro um maço esquecido no concreto frio da jardineira. Ignoro o silêncio que se propaga na ligação e apoio o telefone entre meu ombro e rosto, e com vestígios de desespero, travo uma batalha silenciosa com o isqueiro que cisma em não acender.
— Ele tem nome? Forma? Gosto, talvez? — Você insiste. A chama finalmente surge, mas não adere ao tabaco umidecido pelo sereno da noite. Desisto, voltando minha atenção para sua voz aveludada e descartando o cigarro que flutua em direção a rua. Meus olhos secos e vidrados encaram os ladrilhos frios e sujos da calçada, e minha mente se distância da razão e se entrega a insanidade, quase que por completo. Penso em desligar… Meus dedos rastejam em direção ao botão vermelho que tentador, pede por mim. (Por que você não pede por mim?)
— Tem o teu nome.
Então eu sou teu nada? — Você parece se orgulhar, e como se eu fosse uma folha de jornal, você me rasga, me tritura, me reduz a nada. E ser nada me faz feliz, pra ser nada com você.
Às vezes o nada é tudo.
(Silêncio)
Um suspiro longo ecooa pelo outro lado da linha. Um gemido curto se agarra a minha garganta do lado de cá. Me canso do cinza esbranquiçado das ruas paulistas e fecho as cortinas. Uma fresta intrusa de luz reflete sobre o espelho de centro da sala, iluminando as partículas de pó que viajam perdidas pelo espaço.
— Você já pensou em ser pó?
— Eu achei que fosse nada.
(E você é. Sendo nada você é até demais.)
Já pensou em ser minha? — Avisto uma garrafa de uísque esquecida em um canto qualquer. Agarro-a como se essa fosse um elixir da imortalidade, e degusto o líquido quente e viscoso que se prende em meu interior, torturando-o e ressecando-o. Outro silêncio se faz presente, e me esgano mentalmente. O fundo transparente da garrafa, misteriosamente, me faz enxergar seus olhos esmeraldas, e a bebida de repente adquire o gosto impróprio da sua boca.
— Já não fui isso? — Os sons psicodélicos desaparecem, e o som da tua respiração surge para roubar o som da minha, que se esvai. Desejo que ela se perca e desapareça, mas ela volta… Volta trazendo gemidos, suspiros, sussurros perdidos. Me envolvo na busca de outra garrafa, outro maço, outro pó qualquer abandonado em cacos de espelho. Meu desespero agradável começa a se tornar enlouquecedor.
(E porque deixou de ser, então?) — Você está aí? — Me entrego ao chão, sentando-me sobre o tapete de camurça bege, que com o tempo se tornou mostarda, e que apresenta uma detalhada mancha bôrdo, resultante de uma garrafa de vinho virada em meio a caríciais, toques, gestos e vozes que se perderam no tempo. Espero você desligar — Eu sei que você está aí — Quase posso ver um sorriso apreensivo se formar nos lábios avermelhados que outrora pertenciam aos meus.
— Por que está me ligando?
— Sonhei com a sua voz — Você responde depressa, e meus esforços para não me render aos efeitos que você me causa se esgotam por completo.
— E sentiu saudade?
— Da sua voz?
(Da voz. Do abraço. Do calor do meu corpo contra o seu. De mim.)
—  De tudo.
— Tudo é nada… Nada sou eu… Senti saudade de mim, e sabendo que você ainda me guarda dentro de você, tentei te achar para me reencontrar. Estúpido, não?
(Silêncio)
— Deixa eu te ouvir — Insiste… Não encontro mais minha voz. Reviro meu interior tentando ir contra suas palavras, mas elas viajam dentro de mim, e vejo você em todas as direções. Te encontro, mas não me acho. Encosto minha cabeça no sofá empoeirado e alcanço o controle da tv. Zapeio pelos canais sem prestar atenção nas imagens que se formam e desaparecem, desaparecem e se formam. Eu sinto sua falta. Assumo. Repito. Escuto meus pensamentos ecooarem dentro de minha cabeça e percorrerem minhas veias, se espalhando por minha corrente sanguínea e me envenenando por completo. Você murmura algo inaudível, e diz meu nome com aquela sua voz manhosa de quem quer algo, mas não sabe como conseguir. Eu gravo o agudo da sua voz dentro de mim, e esqueço um pouco mais de mim — Você acha que ainda há espaço para mim?
(Eu acho que há falta de espaço. Mas não para você… Para mim.)
— Sou eu quem precisa de espaço… — Você vai me dominando e eu vou abrindo mão de mim para aderir mais de você. Me apago um pouco dali, daqui… Me deixo envolver por você. Abro mão de um pensamento meu, de uma memória minha, e deixo você preencher esse vazios. Você se afasta e eu te re-invento dentro de mim. Recrio seus sorrisos, seus gestos, suas falas e manias. Procuro seu perfume que está impregnado em meus lençois, suas marcas vermelhas de batom que venceram o passar dos dias e continuam fixas no espelho quebrado do banheiro, onde ainda existem nossas iniciais escritas com aquela tinta preta que não desaparece.
— E você precisa de mais alguma coisa?
— Uma dose de esquecimento, e um comprimido de aminésia, por favor.
(Preciso de você.)
Você recua, ignora minhas palavras, e os sons psicodélicos voltam a surgir do outro lado da linha, ampliando meu estado de inércia. Não resta nada, se não o silêncio que se expande e se torna ensurdecedor e tangível. Depois de um suspiro longo, que se mistura a um som arranhando que escapa de minha garganta, você se despede com a voz seca e palavras vazias. O chiado do telefone te denuncia, e como se soubesse que aceitar romper com essa última conexão é inevitável, meu corpo cede e se despede. Os segundos se congelam, e me arrasto até a cama, fundindo-me a ela como no era no príncipio. A linha fica muda. Eu fico mudo.
(Silêncio. Silêncio. Silêncio. Nada.)

domingo, 6 de novembro de 2011

Everybody Hurts - Avril Lavigne

Todo mundo se machuca alguns dias
Não há problema em ter medo
Todo mundo sofre, todo mundo grita
Todo mundo se sente assim, e está tudo bem.


Todo mundo se machuca alguns dias
Não há problema em ter medo
Todo mundo sofre, todo mundo grita
Sim, todos sentimos a dor
Mas tudo bem
Alguém pode me levar para um lugar melhor
Todo mundo se sente assim
Tudo bem.