sábado, 12 de novembro de 2011

Ana Luíza K.

“E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música.” Friedrich Nietzsche
   Os pés sob os dela, guiava-a. Tinha medo de que se a deixasse andar sozinha, corresse para longe dele. Sempre teve essa mania ridícula de arriscar, libertar as coisas. Mas não podia arriscar perdê-la, não ela. A música terminou e ele, imerso em pensamentos, esqueceu-se de sussurrar uma continuação qualquer pra que ela não descesse dali, para levá-la depois no colo até o carro, quando já estivesse cansada o bastante para adormecer ao primeiro conforto. Ela desceu então, rindo:
Ele: Não gosto quando anda sozinha.
Ela: Não entendo. Gosto de andar sozinha.
Ele: Viu, já começou ideia de independência. Não quero isso, preciso que precise de mim, amor. Não posso deixá-la ir embora. A brisa é traiçoeira, amor. Ela sussurra liberdade e atrai os sonhadores, assim como o canto da sereia atrai os pescadores. Por isso sussurro mais alto que ela, por isso a guio. Porque não posso deixá-la ir embora.
Ela: Não vê?
Ele: O que deveria ver, realmente?
Ela: Olhe em volta. As pessoas nos olham como se fôssemos insanos, anjo. Elas não ouvem.
Ele: Não ouvem o que?
Ela: A música que dançamos toda noite. A música que sussurra sem perceber continuamente enquanto pensa no medo que tem de perder-me. Mal sabe que se perder-me, também me perco. Sou feita de mim e de você, anjo. E não sei ser feliz pela metade. Não vou embora.
   Pegou-a no colo como em todas as noites e levou-a ao carro, sonolenta, sem dar atenção aos olhares presos a eles, simplesmente o fez. Mas não com a sensação de guardá-la, prendê-la a ele, mas com a sensação de que a tinha para si.

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